Intervenção Urbanística Vila Ouro Preto
Detalhes do Projeto:
Arquitetos:
Roberto Fadel e Tiago Castelo Branco Lourenço (Equipe 35)
Colaboradores:
Roberto Fadel e Tiago Castelo Branco Lourenço (Equipe 35)
Ano do Projeto:
2007
Local:
Belo Horizonte, MG, Brasil
Imagens:
Roberto Fadel e Tiago Castelo Branco Lourenço
Outras Informações:
Concurso: FENEA - Concurso Nacional de Idéias - Reforma Urbana - Florianópolis - Santa Catarina - Brasil
Prêmio: Menção Honrosa
Memorial Descritivo
A urbanização das cidades brasileiras ocorreu de forma desordenada, especialmente nos últimos 70 anos, desprezando determinantes geográficos, geológicos dentre outros que deveriam nortear a produção das cidades.
Esta opção de desenvolvimento urbano, construída durante a história brasileira, conduziu suas cidades na atualidade à uma crise socioambiental.
Essa crise ocorre em todo o ambiente urbano ficando mais evidente em áreas ocupadas por populações de baixa renda.
Esta parcela da população vive em favelas, loteamentos precários e áreas residuais, locais ambientalmente frágeis e , freqüentemente, em características topográficas desfavoráveis a ocupação.
À esta população restam para ocupar, nas cidades, áreas com restrições legais, de alta declividade, e propensas à erosão, e ao escorregamento de encostas, fundos de vales, ou regiões de nascentes, cuja suscetibilidade ao risco ambiental é potencializada pelas ações individuais ou coletivas na implantação de edificações, dos acessos ou das redes de suprimento e esgoto.
Estas ações nestas áreas acabam comprometendo o ciclo hidrográfico de micro-bacias, causando então grandes impactos sobre a cidade; mudanças climáticas decorrentes da supressão vegetal e da impermeabilização do solo, ou a poluição de cursos d`água e o comprometimento de mananciais de abastecimento. As habitações são, boa parte das vezes, implantadas sobre as linhas de drenagem, contribuindo para o impacto sobre a rede hidrográfica urbana .
O problema fica mais evidente nas temporadas de chuva e com consequentes tragédias urbanas .
O direito a URBANIZAÇÃO é um dado adquirido e incontestável, é uma questão social e política, mas também passa por uma dimensão cultural, estética e ambiental.
Existem dentro do perímetro urbano de Belo Horizonte várias ocupações com as características descritas acima.
A Vila Ouro Preto, situada na região da Pampulha, na porção norte da capital mineira é um exemplo de urbanização que não respeitou as características do sítio, fato este que não se deve somente, à informalidade, pois, em outras áreas da cidade ocupadas com loteamentos projetados observamos situações semelhantes.
Esta área começou a ser ocupada em 1966, primeiramente às margens do córrego da Cidadania, uma região com menor declividade; posteriormente, já na década de 70, começou a ser ocupada na porção sul, uma área com maior declividade, mas foi a partir de 1975, que houve uma expansão significativa dos índices populacionais da vila. Já em 1989, o território da vila estava todo ocupado. Nos anos 90, ocorreu um crescimento acelerado e a população dobrou de tamanho. Com o aumento da população veio o processo de verticalização das edificações que acabou determinando condições precárias de iluminação natural e ventilação das moradias, condições propícias à insalubridade e aos problemas de saúde. A Vila ainda não possui equipamentos de saúde pública, sendo os atendimentos realizados nos centros de saúde do Bairro Ouro Preto. A umidade excessiva das casas é responsável pela maior parte dos atendimentos ambulatoriais, envolvendo na maior parte das vezes problemas respiratórios.
Os dados acerca da vila afirmam que a grande quantidade de lixo doméstico, provocada pelo aumento da população da Vila, ocasionou a poluição das águas das nascentes do córrego e formou um esgoto a céu aberto. Essa situação foi minimizada com as obras no córrego da Cidadania para a constituição da um parque linear. Até então todo o esgoto produzido era despejado no córrego sem nenhum tratamento. A Vila ainda apresenta problemas de saneamento, acessibilidade e outras precariedades.
Este projeto visa dois fatores ambientais, chave para a qualidade de vida: a água e o saneamento. Apostando na SUSTENTABILIDADE, cria soluções para o reaproveitamento da água, tratamento dos esgotos, dos becos e outras particularidades encontradas na Vila Ouro Preto.
A proposta aposta na criação de um ciclo para a reutilização das águas de chuva. A idéia deste ciclo é equacionar a drenagem urbana, tendo como parâmetro norteador a não remoção dos moradores.
O projeto propõe um sistema paralelo para a água a ser usada em descargas de banheiros, lavagem de roupas, chuveiros e limpeza de áreas externas.
Para que a captação das águas de chuva fosse suficiente para um longo período de consumo, foram propostas novas áreas de permeabilização através de telhados de grama e dos becos drenantes, estes últimos pavimentados com materiais mais permeáveis como os cobogramas.
Assim, a água terá um ciclo a percorrer; os becos de circulação captariam toda a água recebida em sua área, juntamente com as águas vinda dos telhados de grama. Os becos além de captar as águas, retiram as impurezas através de um filtro; a água irá percorrer camadas de areia e brita, materiais filtrantes que irão reter as impurezas.
Após este percurso, a água filtrada é armazenada em diversos reservatórios subterrâneos. Os reservatórios, nessa condição, retardam a ação das bactérias, devido à ausência de calor e luz.
A implantação deste sistema será a partir das cotas mais altas do terreno, para que assim a água recolhida nos trechos mais altos possam descer por gravidade para os reservatórios de cotas mais baixas, sem a necessidade da utilização de bombas de recalque.
A construção das cisternas secas nas linhas de drenagem, à jusante das casas que estão no seu caminho, busca a manutenção do funcionamento do sistema geológico, transferindo as águas pluviais do topo ao fundo de vale, sem provocar erosão ou enchentes, reabastecendo o aqüífero, e não retirando os habitantes.
A proposta busca realizar a recuperação do ciclo hidrográfico da micro-bacia do córrego da Cidadania, e consequentemente a recuperação das águas da cidade. Parte-se da premissa que a recuperação dos cursos d`água deve se dar a partir das cabeceiras, levando a médio e longo prazo a convivência com a água limpa no interior das cidades.
A proposta busca também construir situações que permitam a autogestão de sua implementação, levando assim a uma maior participação da comunidade na gestão dos recursos e na busca por soluções para seu cotidiano.
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