Projetos

Moradia no Centro


Detalhes do Projeto:

Arquitetos:

Tiago Castelo Branco Lourenço

Colaboradores:

Maria das Graça Moura (Orientadora)

Ano do Projeto:

2006

Local:

Belo Horizonte, MG, Brasil

Imagens:

Tiago Castelo Branco Lourenço

Outras Informações:

Concurso: Prêmio Pré-fabricados 2005 Estudantes
Prêmio: Classificado
Maquete: Durrer Atela, Olcimar Campos e Tiago Castelo Branco Lourenço


 


Memorial Descritivo 

Morar no Centro; dentre as proposições de revitalização dos centros históricos por todo o Brasil, a moradia é apontada como um dos importantes usos a serem incentivados dentro deste processo de reabilitação das regiões centrais nas cidades brasileiras.

Desde a década de 70 pode-se observar um esvaziamento das áreas centrais em todas as grandes cidades brasileiras, especialmente o uso de moradias de faixas de renda média e alta, consequentemente observa-se também, que junto com a fuga deste perfil de habitação temos também uma mudança nos serviços e comércios oferecidos nestas regiões.

Apesar de toda a infra-estrutura  oferecida nos centros urbanos isto não tem sido um atrativo para o investimento imobiliário na região.

As proposições de moradias nas regiões centrais têm buscado soluções para o déficit habitacional brasileiro, anteriormente eram oferecidas moradias construídas pelo setor publico fora das áreas urbanizadas da cidade, onde não se tinha nenhuma infra-estrutura, deficiência na oferta de empregos e serviços essenciais.

Agora se tem buscado a promoção de moradias de baixa renda nas áreas centrais, não mais em conjuntos afastados nas periferias das metrópoles brasileiras, esta tem sido posta como uma das soluções para o enclave urbano que os centros históricos se tornaram, especialmente após as 18h00min quanto todos se deslocam para outras regiões das cidades onde estão suas moradias.

Além de solucionar o déficit habitacional brasileiro a moradia social nos centros tem contribuído para as políticas de preservação do patrimônio histórico, ou seja, políticas habitacionais que propõem a retomada dos centros com moradias, combinam a produção de habitações com a preservação do patrimônio bem como a identidade cultural e social da região.

A demanda por habitação é premente em todo o Brasil, especialmente por parte das populações com rendas insuficientes para adquirir um imóvel dentro dos tramites legais oferecidos pelas instituições que tem como responsabilidade social a promoção da habitação dentro da sociedade brasileira.

Os centros são dotados atualmente de moradias com péssimas condições de habitabilidade, partes das proposições que visam promover a moradia em áreas centrais buscam a reforma dos imóveis e sua devida adaptação para o novo uso quando necessário, ou a ocupação de vazios urbanos ainda encontrados nestas regiões.

A situação descrita até aqui é encontrada na cidade de Belo Horizonte, o centro da capital de Minas Gerais não se encontra esvaziado de moradias como talvez em outras cidades brasileiras, mas pode ser constatado que esta condição de enclave urbano no período noturno e na madrugada tem se agravado nos últimos anos.

As propostas de revitalização do centro de Belo Horizonte têm sido marcadas por soluções também encontradas em outros grandes centros urbanos brasileiros, a combinação de políticas habitacionais e políticas de preservação caracterizam as soluções para área central belorizontina.

A política habitacional ainda se encontra no discurso, com poucos avanços, algumas proposições da prefeitura local, talvez o esforço conjunto de outras instâncias da federação podem levar essas propostas a serem mais relevantes. Entretanto, observa-se que a retomada do centro de Belo Horizonte com Centros Culturais em prédios expressivos da história da cidade têm sido mais recorrente.

A grande questão que este trabalho tenta levantar é por que não se pensar moradias de alta e média renda como solução de reabilitação dos centros históricos brasileiros?

Apesar de ser factível que o déficit habitacional brasileiro, especialmente para as camadas da população de baixa renda, ser ainda uma questão não resolvida na trajetória histórica brasileira, entende-se que políticas habitacionais que não busquem um mix social acabam por continuar promovendo uma concentração de renda, outro problema também não resolvido na História Brasileira.

Além disto, se anteriormente jogávamos nossos pobres nas periferias das cidades brasileiras, levando a uma situação insustentável, hoje colocamos nossos milionários, e também temos uma situação insustentável, nossas cidades continuam crescendo na horizontal, as novas periferias são marcadas por condomínios de alta renda, da mesma maneira que a antiga periferia esta é desprovida de infra-estrutura, oferta de empregos e serviços essenciais, seu grande diferencial são os carros que levam os seus moradores para outros lugares da cidade.

Promover nos centros moradias de alta e média renda permitiria uma cidade democrática, entendendo democracia como um regime marcado pelo conflito entre os diferentes. Uma cidade onde será constante o encontro entre aqueles que percebem o mundo com olhares diversos, e não a cidade dos guetos onde os diferentes vivem entre os iguais no país das maravilhas.

Uma questão que está posta para as proposições que almejam a reabilitação dos centros históricos diz respeito às técnicas construtivas de intervenção nestes ambientes já construídos ou densamente ocupados como são os centros urbanos das grandes cidades brasileiras. O pré-fabricado de concreto é uma opção para as condições postas pelo processo de construção que é possível nas áreas centrais. A otimização do canteiro de obras, a velocidade de execução, a garantia de qualidade nos procedimentos de confecção das peças, bem como de montagem destas, a grande variedade de peças oferecidas no mercado, a durabilidade do material são alguns dos atributos dos pré-fabricados de concreto que permitem afirmar que este é um material que atende as condições apresentadas pelas propostas de reabilitação dos centros históricos.

O pré-fabricado é sempre lembrado como opção para construções de baixa renda, seu processo de confecção industrializado permite que se tenha uma queda no valor final do produto, sendo uma opção natural para diminuir o déficit habitacional brasileiro. Na presente proposta o pré-fabricado de concreto tem a possibilidade de ter o mesmo desempenho.

Dentro dos preceitos contemporâneos de intervenção em sítios históricos que apregoam um processo de restauração critica, o pré-fabricado pode também ser um aliado, pois devido a versatilidade do material é permitido uma intervenção que construa uma linguagem arquitetônica contemporânea permitindo assim, um diálogo saudável entre o novo e o antigo, sendo possível a construção de uma linguagem formal contemporânea que remete ao edifício existente sem anulá-lo e se anular, numa atitude de sobriedade e compostura com o tempo.

 

A Intervenção

O prédio escolhido para realizar a intervenção na área central de Belo Horizonte é o Edifício Clemente Faria, o Banco LAvoura de Minas Gerais, projetado pelo arquiteto Álvaro Vital Brazil.

Este prédio foi projetado e construído no início da década de 50 do século XX, em 1951 ganhou o 1º lugar da Bienal de São Paulo na categoria edifícios comerciais.

É tido como um dos importantes exemplares da arquitetura modernista brasileira.

A intervenção proposta pretende a alteração do uso do projeto original, passando este edifício a abrigar moradias plurifamiliares.

Dentro do espaço do edifício atual será mantida a instituição financeira que ocupa o subsolo, o térreo e a sobreloja da edificação.

Os outros andares serão ocupados por apartamentos, uma unidade por andar.

Será ampliado o fosso central do edifício para que possa ser utilizado com via de acesso para as peças de pré-fabricado de concreto a serem utilizadas nas paredes divisórias do apartamento, bem como acesso para os banheiros pré-fabricados adotados na proposta.

Posteriormente, esse fosso central será utilizado como canal de ventilação de todo o interior do edifício, gerando um efeito chaminé.

A caixa de escada atual será substituída por uma outra enclausurada, conforme especificações do corpo de bombeiros, utilizando para sua construção as escadas de pré-fabricados de concreto disponíveis no mercado.

Os três elevadores atuais serão desativados e terão seu fosso adaptdo para receber um elevador de automóveis, que levará nos respectivos andares do prédio construído em anexo que concentrará as garaqgens e toda a infraestrutura de lazer do empreendimento.

O último andar do edifício será preservado e destinado para o uso de um salão de festas.

O anexo proposto na intervenção irá ocupar a área de um edifício de três pavimentos que se localiza em lote vizinho ao Edifício Clemente Faria. Este lote fica na esquina da Praça 7 de Setembro no quarteirão fechado da Rua Rio de Janeiro com a Rua dos Tamoios.

A edificação construída neste terreno abriga em suas dependências um pequeno hotel no segundo pavimento, na sobreloja e no térreo são abrigadas pequenas lojas. Estes usos serão mantidos.

A ocupação deste lote irá utilizar todo o seu potencial construtivo, situação que não ocorre no momento, atendendo assim as demandas do novo uso proposto para o Edifício Clemente Faria e a criação de vagas de garagem para os usuários da regiã]o.

Os edifícios objetos desta proposta se encontram na Praça 7 de Setembro, o centro “nervoso” da capital de Minas Gerais, local onde boa parte da população da cidade passa durante a semana.

Para a montagem do edifício anexo foi utilizado um módulo de 5 mts X 5 mts, montando pilares de seção retangular com apoios em consolo retangular embutido com a altura de 3 mts. As vigas são de comprimento de 5 mts com apoio externo para painel alveolar. As lajes também utilização do painel alveolar.

Para proteção da fachada oeste do edifício anexo foi elaborado um brise-soleil de pré-fabricado de concreto.

Imagens do Projeto